"Tenho diante de mim as duas páginas grandes do livro pesado; ergo da sua inclinação na carteira velha, com os olhos cansados, uma alma mais cansada do que os olhos. Para além do nada que isto representa, o armazém, até à Rua dos Douradores, enfileira as prateleiras regulares, os empregados regulares a ordem humana e o sossego do vulgar. Na vidraça há ruído do diverso, e o ruído diverso é vulgar, como o sossego que está ao pé das prateleiras.
Baixo olhos novos sobre as duas páginas brancas, em que os meus números cuidadosos puseram resultados da sociedade e, com um sorriso que guardo para meu, lembro que a vida, que tem estas páginas com nomes de fazendas e dinheiro, com os seus brancos, e os seus traços à régua e de letra, inclui também os grandes navegadores, os grandes santos, os poetas de todas as eras, todos eles sem escrita, a vasta prole expulsa dos que fazem a valia do mundo.
No próprio registo de um tecido que não sei o que seja se me abrem as portas do Indo e de Samarcanda, e a poesia da Pérsia, que não é de um lugar nem de outro, faz das suas quadras, desrimadas no terceiro verso, um apoio longínquo para o meu desassossego. Mas não me engano, escrevo, somo e a escrita segue, feita normalmente por um empregado deste escritório."
Bernardo Soares
http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_do_Desassossego
domingo, 27 de abril de 2008
Hallelujah
Publicada por Ricardo de Magalhães à(s) domingo, abril 27, 2008
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1 comentários:
I'm travelling light
So Au Revoir
I'll miss my heart
And my guitar
It's lovely here
So far away
I couldn't take
Another day
The songs won't come
But if they did
I'd go back home
So G-d forbid
I guess I'm just
Somebody who
Has given up
On me and you
I'm not alone
I've met a few
Who were travelling
Travelling Light
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