quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Plushgun



Os meus amantes nunca

foram belos,

magros, de veias grossas,

esculpidos em osso,

dramáticos, ternamente trágicos

até ao sorriso.

Os meus amantes eram difíceis,

resistiam de modo selvagem

para logo se entregarem,

resignados e impossíveis,

com a altivez domesticada,

a cabeça em baixo

olhando o meu sexo,

destruídos pelo desejo

mais poderoso que o espírito.

Tristes.

Nenhum conquistou

os meus demónios,

abriu as minha folhagem débil

e entrou

para não sair.

Nenhum me fez fanática

do seu sexo,

me desviou a luxúria

para o centro da sua boca,

concentrou a surpresa

nos seus passos arrastados,

o prazer, no som

da sua voz categórica,

na gravidez dos seus olhos.

Nenhum me fez habituar-me aos seus costumes,

me criou a necessidade de o necessitar,

e por fim se ofereceu a ministrar-me

a dose de si mesmo que

me faria depender-lhe, nem

tampouco me instalou

um tumor benigno

no útero.

E agora tudo é diferente,

tudo é diferente.

E já não estou

Só.


Eva Vaz

+++