click,
dormem em simultâneo sobre as escarpas
e sobre a sua beleza suja,
interior ao sono, interior à chuva,
colocam as mãos nos bolsos como se lá estivesse
parte de uma incompletude que os completasse,
consolidam a solidão inacessível,
sentem o vento processar o seu rigor irregular
nos pulsos rasgados,
ouvem música petrificada, julgam que o ritmo
e o movimento da cabeça os podem apartar,
e por isso se intitulam apenas
de ouvintes de música,
click,
nunca saberiam assinalar, por exemplo, nos negativos
da presente sessão, os lugares íngremes
das suas infâncias que se auto-consolam
e auto-flagelam entre si.
sobre eles disparo como se atirasse a matar
sobre as suas ideias transumantes
em direcção à trovoada oca
dos meus olhos brancos.
click,
o crepúsculo carrega-nos, a confusão inicia-nos as fugas,
todas as fugas, todas as horas que a bem ou a mal
singram e quebram.
quem me dera poder embriagar-lhes a sombra,
desatar-lhes os nós da vida,
poder vê-los andar de novo,
e ficar aqui para sempre, neste fim de tarde,
compensando a minha completa falta de rosto
com a tripulação dos meus dedos
fingindo sobre a máquina fotográfica.
Tiago Nené
sábado, 28 de março de 2009
Polly Paulusma
Publicada por Ricardo de Magalhães à(s) sábado, março 28, 2009