sábado, 28 de março de 2009

Polly Paulusma



click,

dormem em simultâneo sobre as escarpas

e sobre a sua beleza suja,

interior ao sono, interior à chuva,

colocam as mãos nos bolsos como se lá estivesse

parte de uma incompletude que os completasse,

consolidam a solidão inacessível,

sentem o vento processar o seu rigor irregular

nos pulsos rasgados,

ouvem música petrificada, julgam que o ritmo

e o movimento da cabeça os podem apartar,

e por isso se intitulam apenas

de ouvintes de música,

click,

nunca saberiam assinalar, por exemplo, nos negativos

da presente sessão, os lugares íngremes

das suas infâncias que se auto-consolam

e auto-flagelam entre si.

sobre eles disparo como se atirasse a matar

sobre as suas ideias transumantes

em direcção à trovoada oca

dos meus olhos brancos.

click,

o crepúsculo carrega-nos, a confusão inicia-nos as fugas,

todas as fugas, todas as horas que a bem ou a mal

singram e quebram.

quem me dera poder embriagar-lhes a sombra,

desatar-lhes os nós da vida,

poder vê-los andar de novo,

e ficar aqui para sempre, neste fim de tarde,

compensando a minha completa falta de rosto

com a tripulação dos meus dedos

fingindo sobre a máquina fotográfica.





Tiago Nené

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