Se não estivesses,
se a concha dos teus dedos
não fizesse vibrar em mim,
gota a gota,
a tua voz,
se não esticasses os braços
sobre um qualquer
espaço
que nunca será nosso,
se o teu sorriso
agora distendido
não se mostrasse todo
nos gestos do amor,
se a tua mão não procurasse
a minha, ou os meus dedos
não pudessem, ainda
que ao de leve,
tocar a ponta frágil dos teus cabelos
escuros,
se eu não encontrasse
em ti o meu olhar,
às vezes,
quando finjo que não vejo
o teu olhar
em mim,
se os dias não fossem
confortados
com a ideia de que existes
sensivelmente existes,
e que, por isso, de alguma
forma, eu sou em ti
a minha forma de existir
- estas palavras, as frases
que as expõem, o poema
em que tudo se articula, no íntimo
sentido que só existe
dentro do poema, tudo o que
é
e, ainda,
o que possa caber em nós, secretamente,
seria uma triste passagem
pelo que resta
e nem os meus olhos, e nem as minhas
lágrimas
diriam o que dizem;
porque a mão que escreve, o seu último
argumento, está
na concha dos teus dedos
e no gemido que atraiçoa
a tua voz.
António Mega Ferreira
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Se não estivesses
Publicada por Ricardo de Magalhães à(s) sexta-feira, agosto 01, 2008
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1 comentários:
"...e nem os meus olhos, e nem as minhas lágrimas diriam o que dizem..."
Amo teu canto, as músicas, as fotos e as palavras que aqui encontro.
Beijos da amiga que te adora.
Márcia Raquel
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