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Quando eu morrer... não lancem meu cadáver No fosso de um sombrio cemitério... Odeio o mausoléu que espera o morto Como o viajante desse hotel funéreo. Corre nas veias negras desse mármore Não sei que sangue vil de messalina, A cova, num bocejo indiferente, Abre ao primeiro o boca libertina. Ei-la a nau do sepulcro — o cemitério... Que povo estranho no porão profundo! Emigrantes sombrios que se embarcam Para as plagas sem fim do outro mundo. Tem os fogos — errantes — por santelmo. Tem por velame — os panos do sudário... Por mastro — o vulto esguio do cipreste, Por gaivotas — o mocho funerário... Ali ninguém se firma a um braço amigo Do inverno pelas lúgubres noitadas... No tombadilho indiferentes chocam-se E nas trevas esbarram-se as ossadas... Como deve custar ao pobre morto Ver as plagas da vida além perdidas, Sem ver o branco fumo de seus lares Levantar-se por entre as avenidas!... Oh! perguntai aos frios esqueletos Por que não têm o coração no peito... E um deles vos dirá "Deixei-o há pouco De minha amante no lascivo leito." Outro: "Dei-o a meu pai". Outro: "Esqueci-o Nas inocentes mãos de meu filhinho"... ...Meus amigos! Notai... bem como um pássaro O coração do morto volta ao ninho!... |
Castro Alves
1 comentários:
E nós brancos fomos tão pequenos que até hoje este passado cruel faz da nossa história um lamento de dor.
Você precisa conhecer o Poeta Cruz e Souza. Aqui em Florianópolis ele é conhecido também como o Poeta dos Escravos. Cruz e Souza era negro. Sua história é fantástica.
Mais uma vez teu blog surpreende. Parabéns!
Tua sempre amiga
Márcia Raquel
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