sábado, 13 de setembro de 2008

Desculpa-me a ternura

Enternece-me pensar que estás aí,

não força de trabalho desigual

nem vida à pressa,

mas minha amiga.

Talvez as palavras que te digo

me transpareçam classe,

talvez nem te devesse dizer nada.

Porque és a mão que ampara o meu silêncio,

a minha filha, o meu cansaço

à custa do teu cansaço, da tua filha,

do teu silêncio.

Não há homens-a-dias neste mundo,

mas tantas como tu,

a segurar nas mãos e no sorriso

algumas como eu.

Entraste há pouco a perguntar

se eu tinha febre

a louça por lavar nas tuas mãos,

aspirando o cansaço dos meus ombros,

nos teus ombros o cansaço de mim

e o cansaço de ti.

Desculpa os meus silêncios,

o falar-me contigo como com mais ninguém,

desculpa o tom sem pressa

e o meu dinheiro que não chega a nada,

comprando o teu trabalho

(o teu sorriso)


Ana Luísa Amaral

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