sábado, 30 de maio de 2009

Cruzumana



Acendem-se
as mulheres sobre as tarolas aflitas
da seara as mais antigas

as que vão à janela

despedem-se antes do beijo
assentando o láudano nas cesuras infectas.

entreolham-se.

e passam a mão nas cãs e nas estrigas obsoletas
da madrugada.

e arqueiam o corpo sobre o corpo
obsoleto da aluvião.

correram muito muitas eras dando à luz na noite.

depois
depois de regressadas
às velhas casas

atearam o pânico nas leiras
e o riso no corpo.

e acreditaram ser possível rir infinitamente.

agora não.
estão como entontecidas estranhas mães de dezembro

lambendo nos pés a febre.




Pedro Gil-Pedro

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