domingo, 19 de abril de 2009

Sparklehorse



Não sinto nada ao domingo. Nada me comove.
Nada me demove de não sentir.
Resisto ao apelo dos grãos do café
entre magotes de pessoas,
ao passeio de carro, devagar, para gozar o panorama,
como devem ser os passeios ao domingo.
Não há um ritmo que me incendeie,
uma montra luminosa que me ilumine.
Fico por casa, na serenidade do jornal de domingo,
quieto quieto. Era capaz de passar o dia
abraçado a ele, página após página.
Nacional, local, mundo.
É domingo no mundo.
Em Paris sobe-se uma vez mais à torre Eiffel
de encontro ao céu de domingo,
que neste dia não haverá de ser diferente
do céu que cobre o jardim de terra
plantado junto ao museu do Louvre.
Nem uma praia das Caraíbas escapa ao domingo:
recebe os rapazes e raparigas lentos e torpes
mais tarde do que é habitual: é domingo,
e só muito tarde dão descanso à praia,
cheios de areia dominical nos pensamentos.
Abstenho-me de sentir ao domingo,
apesar de ser domingo no mundo.


joão alexandre lopes

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