sábado, 15 de novembro de 2008

Mishima



Numerosos comboios do caminho-de-ferro aéreo paravam mesmo ao pé de nós e partiam de novo, com grande ruído de metais. A multidão de pessoas que subia e descia das carruagens tornava-se cada vez mais densa. Cada vez que chegava um comboio, ficávamos cortados do raio de sol que nos banhava no seu agradável calor. E cada vez que um comboio se afastava, eu ficava de novo aterrorizado com a suavidade do sol que me batia no rosto.
Considerava um sinal de mau augúrio esta forma como o sol abençoado vinha ter comigo, a maneira como o meu coração fruía momentos que não deixavam nada a desejar. Dentro de alguns minutos, sem dúvida que um repentino raid aéreo ou outro acontecimento igualmente funesto viria pôr termo às nossas vidas. Ou talvez tivesse ganho o mau hábito de considerar a mínima felicidade como um grande favor pelo qual teríamos que pagar um preço. Era esse, precisamente, o meu sentimento ao encarar Sonoko. E também ela parecia esmagada pelo mesmo sentimento.
(...)


Yukio Mishima
- in Confissões de uma Máscara


Mishima morre a 25 de Novembro de 1970 na mesma cidade onde nasceu cometendo "seppuku", o suicídio ritual tradicional dos samurais.

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