sábado, 31 de maio de 2008

Amy



E porque nem sempre estamos bem...

I'm Your Man




If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you
If you want a partner
Take my hand
Or if you want to strike me down in anger
Here I stand
I'm your man
If you want a boxer
I will step into the ring for you
And if you want a doctor
I'll examine every inch of you
If you want a driver
Climb inside
Or if you want to take me for a ride
You know you can
I'm your man
Ah, the moon's too bright
The chain's too tight
The beast won't go to sleep
I've been running through these promises to you
That I made and I could not keep
Ah but a man never got a woman back
Not by begging on his knees
Or I'd crawl to you baby
And I'd fall at your feet
And I'd howl at your beauty
Like a dog in heat
And I'd claw at your heart
And I'd tear at your sheet
I'd say please, please
I'm your man
And if you've got to sleep
A moment on the road
I will steer for you
And if you want to work the street alone
I'll disappear for you
If you want a father for your child
Or only want to walk with me a while
Across the sand
I'm your man
If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you


Leonard Cohen

Tori Amos / Mayakovsky



Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.



MAIAKOVSKI

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Take Five



O que nos chama para dentro de nós mesmos
é uma vaga de luz, um pavio, uma sombra incerta.
Qualquer coisa que nos muda a escala do olhar
e nos torna piedosos, como quem já tem fé.
Nós que tivemos a vagarosa alegria repartida
pelo movimento, pela forma, pelo nome,
voltamos ao zero irradiante, ao ver
o que foi grande, o que foi pequeno, aliás
o que não tem tamanho, mas está agora
engrandecido dentro do novo olhar.

Fiama Hasse Pais Brandão

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Gabriel García Márquez


"Era ela, elástica, com uma pele suave da cor do pão e olhos de amêndoas verdes, e tinha o cabelo liso e negro e longo até as costas, e uma aura de antiguidade que tanto podia ser da Indonésia como dos Andes. Estava vestida com um gosto sutil: jaqueta de lince, blusa de seda natural com flores muito ténues, calças de linho cru, e uns sapatos rasos da cor das buganvílias. "Esta é a mulher mais bela que vi na vida", pensei, quando a vi passar com seus sigilosos passos de leoa, enquanto eu fazia fila para abordar o avião para Nova York no aeroporto Charles de Gaulle de Paris. Foi uma aparição sobrenatural que existiu um só instante e desapareceu na multidão do saguão.

Eram nove da manhã. Estava nevando desde a noite anterior, e o trânsito era mais denso que de costume nas ruas da cidade, e mais lento ainda na estrada, e havia camiões de carga alinhados nas margens, e automóveis fumegantes na neve. No saguão do aeroporto, porém, a vida continuava em primavera.

Eu estava na fila atrás de uma anciã holandesa que demorou quase uma hora discutindo o peso de suas onze malas. Começava a me aborrecer quando vi a aparição instantânea que me deixou sem respiração, e por isso não soube como terminou a polémica, até que a funcionária me baixou das nuvens chamando minha atenção pela distração. À guisa de desculpa, perguntei se ela acreditava nos amores à primeira vista. "Claro que sim", respondeu. "Os impossíveis são os outros" Continuou com os olhos fixos na tela do computador, e me perguntou que assento eu preferia: fumante ou não-fumante.

— Dá na mesma — disse categórico — desde que não seja ao lado das onze malas.

Ela agradeceu com um sorriso comercial sem afastar a vista da tela fosforescente.

— Escolha um número — me disse. — Três, quatro ou sete.

— Quatro.

Seu sorriso teve um fulgor triunfal.

— Nos quinze anos em que estou aqui — disse —, é o primeiro que não escolhe o sete.

Marcou no cartão de embarque o número do assento e me entregou com o resto de meus papéis, olhando-me pela primeira vez com uns olhos cor de uva que me serviram de consolo enquanto via a bela de novo. Só então me avisou que o aeroporto acabava de ser fechado e todos os vôos estavam adiados.

— Até quando?

— Só Deus sabe — disse com seu sorriso. O rádio avisou esta manhã que será a maior nevada do ano.

Enganou-se: foi a maior do século. Mas na sala de espera da primeira classe a primavera era tão real que havia rosas vivas nos vasos e até a música enlatada parecia tão sublime e sedante como queriam seus criadores. De repente pensei que aquele era um refúgio adequado para a bela, e procurei-a nos outros salões, estremecido pela minha própria audácia. Mas na maioria eram homens da vida real que liam jornais em inglês enquanto suas mulheres pensavam em outros, contemplando os aviões mortos na neve através das janelas panorâmicas, contemplando as fábricas glaciais, as vastas plantações de Roissy devastadas pelos leões. Depois do meio-dia não havia um espaço disponível, e o calor tinha-se tornado tão insuportável que escapei para respirar.

Lá fora encontrei um espetáculo assustador. Gente de todo tipo havia transbordado as salas de espera e estava acampada nos corredores sufocantes, e até nas escadas, estendida pelo chão com seus animais e suas crianças, e seus trastes de viagem. Pois também a comunicação com a cidade estava interrompida, e o palácio de plástico transparente parecia uma imensa cápsula espacial encalhada na tormenta. Não pude evitar a idéia de que também a bela deveria estar em algum lugar no meio daquelas hordas mansas, e essa fantasia me deu novos ânimos para esperar..."


Gabriel García Márquez em "O avião da bela adormecida"

All That Numbs you



Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:

- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.
Ele quis morrer para arrasar a morte e voltar.


Affonso Romano de Sant'Anna

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Asobi Seksu



things don't die or remain damaged
but return: stumps grow back hands,
a head reconnects to a neck,
a whole corpse rises blushing and newly elastic.
Later this vision is not True:
the grandmother remains dead
not hibernating in a wolf's belly.
Or the blue parakeet does not return
from the little grave in the fern garden
though one may wake in the morning
thinking mother's call is the bird.
Or maybe the bird is with grandmother
inside light. Or grandmother was the bird
and is now the dog
gnawing on the chair leg.
Where do the gone things go
when the child is old enough
to walk herself to school,
her playmates already
pumping so high the swing hiccups


Kimiko Hahn

Graham Greene


O homem que roubou a torre Eiffel


Não foi tanto o roubo da torre Eiffel que me criou dificuldades, mas sim colocá-la de volta antes que alguém notasse. Devo afirmar, sem falsa modéstia, que o plano foi muito bem arquitetado. Vocês podem imaginar o que me custou — uma frota de caminhões enormes para carregar a torre até um daqueles campos planos e desertos que se vêem a caminho de Chantilly. Lá a torre podia facilmente ser colocada na horizontal. Durante a viagem, em uma manhã nevoenta de outono, havia bem pouco tráfego, e o pouco que havia era insignificante. Ninguém que tentou ultrapassar meus 102 caminhões de seis rodas notou que eles eram unidos entre si pela torre, como as contas de um colar: Os carros particulares chegavam a fazer menção de ultrapassar, mas quando os motoristas dos Fiat e Renault viam aquela fila de caminhões à frente, desistiam e conformavam-se em seguir a procissão. Por outro lado, os carros que vinham em sentido contrário tinham a estrada toda para eles: meus caminhões transformaram o trajeto Chantilly—Paris em uma longa estrada de mão única. Os carros passavam a toda velocidade e nem tinham tempo de notar que a torre estava apoiada sobre cada caminhão da corrente, como numa espécie de berço de centenas de metros de comprimento.

Tenho muito carinho pela torre, e fiquei feliz em vê-Ia, depois de tantos anos de guerra, cerração, chuva e radar, em repouso. No primeiro dia da mudança caminhei ao seu redor, de vez em quando tocando um dos suportes: o quarto andar parecia um pouco desconfortável no pedaço que passava por cima de um afluente manso e lamacento do Sena, então coloquei-o mais à vontade. Depois voltei para sua sede original — ainda temia que alguém notasse. Os grandes blocos de concreto estavam lá, sem nada em cima. Lembravam tanto túmulos, que alguém já havia deixado um maço de flores para os heróis da Resistência. Um táxi parou trazendo os últimos turistas da estação antes de, como andorinhas, rumarem para oeste com a chegada do inverno. O homem estava com uma garota e cambaleava um pouco ao caminhar. Curvou-se para ver as flores e ao endireitar-se ficou vermelho nas bochechas lisas e empoadas.

— É um memorial — disse.

Graham Greene em “A última palavra”

terça-feira, 27 de maio de 2008

Joy Division / Florbela Espanca



Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E como uma raiz, sereno e forte.
Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.
Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!
Vim da Moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera... quebra-me o encanto!


Florbela Espanca

Old Jerusalem



In this place there’s nothing really quite appealing
Except maybe this tree that we’re under
And yet, as I say this, I wonder
If it’s you that makes it shine or the sun

I could leave you talking here to another
Except maybe I’m hanging on your eyes
Yet I know, and it comes as no surprise
That my presence’s circumstantial, it just happened

“Since we must talk about us”, you said
“At least bring something new to the play:
I’ll say what I mean
Would you please mean what you say?”

These words gave you freedom thought sprinkled with tears
But all freedom, my dear, is like that
Just paths, on and on, up ahead
When you leave a place

Still I’ll hear what you want me to hear
And say what comes to your mind
I’ll search what you want me to find
To be special

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Virginia Woolf



"Ninguém pode se considerar expert sobre Londres se não conhecer um verdadeiro cockney; se não dobrar numa rua lateral, longe das lojas e dos teatros, e bater em uma porta particular numa rua de casas particulares.

Casas particulares em Londres têm tendência a serem muito parecidas. A porta se abre para um vestíbulo escuro, ergue-se uma escada estreita; do patamar superior abre-se uma dupla sala de estar e nessa dupla sala de estar vê-se dois sofás, um de cada lado de um fogo crepitante, seis poltronas e três compridas janelas dando para a rua. Sempre é matéria de considerável conjectura o que acontece na segunda metade da sala dos fundos debruçando-se para os jardins de outras casas. Mas é com a sala de estar da frente que estamos preocupados; pois era ali que mrs. Crowe sentava-se sempre numa poltrona junto ao fogo; era ali que sua existência transcorria; era ali que ela servia o chá.

Que tenha nascido no campo, embora estranho, parece ser um fato; que ela às vezes deixasse a cidade, naquelas semanas de verão em que Londres não é Londres, também é verdade. Mas para onde ia ou o que fazia quando saía de Londres, quando sua poltrona estava vazia, sua lareira apagada e a mesa desfeita, ninguém sabia ou podia imaginar. Pois conceber mrs. Crowe com seu vestido preto, seu véu e seu chapéu caminhando num campo de nabos ou subindo um monte de pasto está além da mais desvairada imaginação.

Ali, junto à lareira no inverno ou à janela no verão, sentara-se ela por 60 anos — mas não sozinha. Havia sempre alguém na poltrona oposta, fazendo uma visita. E antes que o primeiro visitante estivesse sentado por dez minutos, a porta sempre se abria e a criada Maria, de olhos e dentes proeminentes, que por 60 anos abrira a porta, abria-a mais uma vez e anunciava um segundo visitante; e a seguir um terceiro, e logo depois um quarto.

Nunca se soube de um tête-à-tête com mrs. Crowe. Ela não gostava de tête-à-têtes. Era uma peculiaridade que compartilhava com muitas anfitriãs, a de nunca ser especialmente íntima de alguém. Por exemplo, havia sempre um homem idoso no canto junto ao armário; e que parecia tanto fazer parte daquela admirável mobília do século XVIII quanto seus pegadores de bronze. Mas mrs. Crowe sempre se dirigia a ele como mr. Graham; nunca John, nunca William; embora, às vezes, o chamasse de "caro mr. Graham" como para sublinhar que já o conhecia havia 60 anos.

A verdade é que não desejava intimidade, desejava conversa..."

Virginia Woolf em "Cenas londrinas"

Read My Mind



"'Cause I don't shine if you don't shine"

domingo, 25 de maio de 2008

Olavo Bilac




Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....


Olavo Bilac


lambchop




Quem dorme à noite comigo?
É meu segredo, é meu segredo!
Mas se insistirem, desdigo.
O medo mora comigo,
Mas só o medo, mas só o medo!

E cedo, porque me embala
Num vaivém de solidão,
É com silêncio que fala,
Com voz de móvel que estala
E nos perturba a razão.

Que farei quando, deitado,
Fitando o espaço vazio,
Grita no espaço fitado
Que está dormindo a meu lado,
Lázaro e frio?

Gritar? Quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim?
Gostava até de matar-me.
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.



Reinaldo Ferreira

sábado, 24 de maio de 2008

Hieronymus Bosch



Christ Carrying the Cross

Ladies and Gentlemen We are Floating in Space



So please put your sweet hand in mine
And float in space and drift in time

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Pau Casals / Hilda Hilst



I

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

IV

Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?

V

Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Este da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.

Hilda Hilst

quinta-feira, 22 de maio de 2008

cinematic orchestra



Breathe!

Portograal




Descobrir Mundos Nunca menos
Querer partir sem poder voltar
E permanecer fiel Permanecer eterno
À alma À vida e Ao mar


Seja a luz a estrada universal
E que ungido me permita deus
Navegar nos Céus a Terra
E encontrar na Terra os Céus


Joaquim Fernando Fonseca

quarta-feira, 21 de maio de 2008

I Put A Spell On You



Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia

terça-feira, 20 de maio de 2008

La Llorona



Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Manuel Bandeira

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Paula Rego





"Pintar é (um acto) prático mas também mágico. Estar no meu estúdio é como estar dentro do meu próprio teatro”


Paula Rego

domingo, 18 de maio de 2008

Ne me quitte pas




Nomeei-te no meio dos meus sonhos
chamei por ti na minha solidão
troquei o céu azul pelos teus olhos
e o meu sólido chão pelo teu amor

Ruy Belo

sábado, 17 de maio de 2008

Run



"Light up, light up
As if you have a choice
Even if you cannot hear my voice
I'll be right beside you dear"

Kipling




SE

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!


Rudyard Kipling

My Blueberry Nights



So what's wrong with the Blueberry Pie?


Hopper



Morning Sun

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Elis / Sophia



Pudesse Eu

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!


Sophia de Mello Breyner Andresen

entre as árvores e a solidão

o que vamos fazer amanhã
neste caso de amor desesperado?
ouvir música romântica
ou trepar pelas paredes acima?

amarfanhar-nos numa cadeira
ou ficar fixamente diante
de um copo de vinho ou de uma ravina?
o que vamos fazer amanhã

que não seja um ajuste de contas?
o que vamos fazer amanhã
do que mais se sonhou ou morreu?
numa esquina talvez te atropelem,

num relvado talvez me fusilem
o teu corpo talvez seja meu,
mas que vamos fazer amanhã
entre as árvores e a solidão?


VASCO GRAÇA MOURA


quinta-feira, 15 de maio de 2008

Elizabethtown



"Your job is to break through barriers. Not accept blame and bow and say: “Thank you, I’m a loser, I’ll go away now.” “Phil’s men to me….” So what? You want to be really great? Then have the courage to fail big and stick around. Make them wonder why you’re still smiling. That’s true greatness to me.

the reason why I’m still smiling…"

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Lucian Freud



terça-feira, 13 de maio de 2008

Cat Power / Nuno Júdice



Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir até de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças:«Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar; que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.


Nuno Júdice

Garoto da praia


Em dia de Senhor de Matosinhos,um Senhor de Matosinhos.
Eugénio Andrade ( sem o "de"),o barbeiro que todos os dias nos oferecia um poema,um manuscrito que colava religiosamente na montra da sua museológica barbearia.
No meio da tantas barbas e bigodes,tesouras e navalhas,máquinas zero, pentes quatro,dissertações da bola e parlamento,ele foi sempre um bom matosinhense,um sorriso sincero,um "-bom dia!" humilde e educado.
Foi barbeiro porque teve que ser e, nasceu poeta; nada havia a fazer.

"Primeiro livro do "verdadeiro" Eugénio de Andrade
"Garoto da praia" deu à costa em Matosinhos

O "poeta barbeiro" Eugénio de Andrade apresentou, no feriado do passado dia 5 de Outubro
, o seu primeiro livro, "O Garoto da praia", integrado na colectânea "Poetas populares de Matosinhos". Um sonho de há muito tempo..."

in jornal regional "Matosinhos hoje" de
10-10-2001

Eugénio Andrade,o verdadeiro(como ele mesmo dizia),não era só barbeiro,não era só poeta.Era um bom homem,um "simples"homem bom.
Quem quiser ler os seus poemas só tem que passar lá na barbearia.O Poeta não está,mas a montra é a mesma.Se olharem bem,muito bem,...estão todos lá.

Para o senhor Andrade,um menino da minha praia.




segunda-feira, 12 de maio de 2008

Amalia / Natália Correia



Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanentemente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
já as folhas me ofuscam macilentas;

E vou com as andorinhas. Até quando?
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.

Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:

Andorinha indeme ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.


Natália Correia

Picasso


Concordo com D.Quixote: o meu repouso é a batalha
Pablo Picasso

Fight Club



You have to know the answer to this question! If you died right now, how would you feel about your life?

domingo, 11 de maio de 2008

Piazzolla



O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.


Clarice Lispector

Coração Polar


Não sei bem de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus náufragos
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.
Não sei de cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.



Manuel Alegre


sábado, 10 de maio de 2008

Bob Dylan / Dylan Thomas




Clown in the Moon

My tears are like the quiet drift
Of petals from some magic rose;
And all my grief flows from the rift
Of unremembered skies and snows.

I think, that if I touched the earth,
It would crumble;
It is so sad and beautiful,
So tremulously like a dream.

Dylan Thomas

calvin

Até Quando ?



(Obrigado pelo comentário.É uma mensagem que já estava para aparecer à muito tempo.)

"Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente

Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro"


Gabriel

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Rodrigo Leão / Teixeira de Pascoaes



A ELEGIA DO AMOR I

Lembras-te, meu amor,
Das tardes Outonais,
Em que íamos os dois,
Sozinhos, passear,
Para fora do povo
Alegre e dos casais,
Onde só Deus pudesse
Ouvir-nos conversar?
Tu levavas, na mão,
Um lírio enamorado,
E davas-me o teu braço;
E eu, triste meditava
Na vida, em Deus, em ti...
E, além, o sol doirado
Morria, conhecendo
A noite que deixava.
Harmonias astrais
Beijavam teus ouvidos;
Um crepúsculo terno
E doce diluía,
Na sombra, o teu perfil
E os montes doloridos...

(...)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

The Great Escape




Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

Pablo Neruda

Vida de Cão


A Universidade do Porto acolhe, no edifício da Reitoria, entre os dias 9 e 17 de Maio a exposição de fotografia intitulada "Vida de cão". O trabalho do fotógrafo Joaquim Pedro Correia visa promover uma reflexão sobre a situação actual dos animais abandonados em Portugal. Durante o período compreendido entre os meses de Junho a Setembro de 2007, Joaquim Pedro Correia, visitou vários canis e associações de animais no intuito de perceber a dimensão do fenómeno num país em que a legislação parece simples mas reduz as expectativas de vida de um "antigo" animal de companhia a apenas 8 dias a partir do momento em que é capturado. O resultado é uma série de 20 imagens que pretendem responder a uma das muitas frases lidas e ouvidas por quem vivência esta realidade: «A pergunta não é "podem eles pensar?" ou "podem eles falar?", mas antes "podem eles sofrer?» (Jeremy Bentham).

O evento conta com o apoio da Sociedade Protectora dos Animais do Porto que, durante os dias da exposição fará uma acção de sensibilização.

Joaquim Pedro Correia, fotógrafo há mais de uma década, é autor do livro "Herois do Mar", fotografou para o livro "Portograal", colabora, continuamente com a Fundação de Serralves tendo participado em várias exposições, individuais e colectivas entre as quais "A luz do céu com a luz da terra" na galeria Alvarez."

............

O trabalho do fotógrafo Joaquim Pedro Correia,meu Amigo...Este post também é dedicado a todos aqueles que nos dizem que não é possível.Mais uma vez foi possível.Parabéns e obrigado.

A inauguração é hoje,dia 8,às 19 horas.

Slava's Snowshow

terça-feira, 6 de maio de 2008

Tom Waits / Bocage



Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.


Bocage

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Norah Jones / Ana Hatherly




Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um naufrágio sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito
tudo era apenas lábios pálpebras
intumiscências cobrindo o corpo de flutuantes
volteios de palpitações trémulas adejando
pelo rosto beijava os teus olhos por dentro.
Beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão
sobre o meu pensamento corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.

São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me.


ANA HATHERLY

Transfiguração






Tens agora outro rosto, outra beleza:
Um rosto que é preciso imaginar,
E uma beleza mais furtiva ainda...
Assim te modelaram caprichosas,
Mãos irreais que tornam irreal
O barro que nos foge da retina.
Barro que em ti passou de luz carnal
A bruma feminina...

Mas nesse novo encanto
Te conjuro
Que permaneças.
Distante e preservada na distância.
Olímpica recusa, disfarçada
De terrena promessa
Feita aos olhos tentados e descrentes.
Nenhum mito regressa....
Todas as deusas são mulheres ausentes...


MIGUEL TORGA




La vida secreta de las palabras




"el pasado: cómo sobrevivir a él, cómo superarlo, cómo convivir con él en el presente, cómo es imposible olvidarlo del todo. También el eterno conflicto entre cinismo e idealismo. Entre la fuerza del deseo y la esperanza, y la cruda realidad."

sábado, 3 de maio de 2008

Sometimes It Hurts



Num daqueles dias de outono, em que nos queima a vermelha labareda das folhas, um amigo pedia que lhe contasse uma história. «Salva-me a vida, conta-me uma história». E eu recordei aquela mulher das Mil e Uma Noites, que encadeava, com doçura e desespero, uma história na outra, pois só a história infinita nos permite escapar à maldição da morte.

Um amigo é uma história que nos salva.



mário rui de oliveira

Angeli





skrotinhos

sexta-feira, 2 de maio de 2008

fade out again




This machine will, will not communicate
These thoughts and the strain I am under
Be a world child, form a circle
Before we all, go under
fade out again, fade out again

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Henry Miller


Henry is like a mythical animal. His writing is flamboyant, torrential, chaotic, treacherous, and dangerous. Our age has need of violence I enjoy the power of his writing, the ugly, destructive, fearless cathartic strength. This strange mixture of worship of life, enthusiasm, and passionate interest in everything, energy, exuberance, laughter, and sudden destructive storms baffle me. Everything is blasted away: hypocrisy, fear, pettiness, falsity. It is an assertion of instinct. He uses the first person, real names; he repudiates order and form and fiction itself. He writes in the uncoordinated way we feel, on various levels at once.

It is an effort to transcend the rigidities and patterns made by the rational mind. He can be swept off his feet by a book, a person, an idea. He is a musician and a painter. He notices everything. He selects from everything only what can be enjoyed. He finds joy in everything.

– “The Diary of Anais Nin” volume one, 1931-1934

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