domingo, 30 de novembro de 2008

3 Legged Animals



hands fit together like medicine
butterfly itch on a bottle rocket tail everything is bleeding
shake the glass out of your hair
spell your name in broken teeth

3 legged animals
shut their sweet eyes lick your scars and grow wings
sleep for me sleepless
dream for me dreamless

hands bleed together fine
sweat off your makeup
peel and wait in washed out gold
ease back warm electric chair
leave your memories we're almost new
sleep for me sleepless
dream for me dreamless
sleep for me sleepless
dream for me dreamless

Gus Fink




sábado, 29 de novembro de 2008

Dead Combo / Pedro Tamen



O mar é longe,mas somos nós o vento;
e a lembrança que tira,até ser ele,
é doutro e mesmo,é ar da tua boca
onde o silêncio pasce e a noite aceita.
Donde estás,que névoa me perturba
mais que não ver os olhos da manhã
com que tu mesma a vês e te convém?
Cabelos,dedos ,sal e a longa pele,
onde se escondem a tua vida os dá;
e é com mãos solenes,fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessário ao pé do mar.


Pedro Tamen

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Jailbird



Se alguma vez, nos salões de um palacio, sobre a erva de uma vala ou na solidão morna do vosso quarto, acordardes de uma embriaguez evanescente ou desaparecida, perguntai ao vento, a vaga, ao passaro, ao relogio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento a vaga, a estrela, o passaro, o relogio, vos responderão: São horas de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos! Deslumbrai-vos!


Baudelaire

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Joana Amendoeira / Al Berto



tenho, no silêncio, a certeza de que os homens bons sobrevivem às intempéries da mente dos homens e das mulheres e dos corpos deles em conjuntos dionisíacos. porque são bons os homens que por aí vivem e por aí morrem... e por aí se retiveram tempo suficiente para se esquecerem e serem esquecidos.


Al Berto

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Buena Vista Social Club



Nós que, pelo império das circunstâncias, dirigimos
a revolução, não somos donos da verdade, menos ainda
de toda a sapiência do mundo. Temos que aprender todos
os dias. No dia em que deixarmos de aprender, que acreditarmos
saber tudo ou se tivermos perdido a capacidade de contato
ou de intercâmbio com o povo e com a juventude, será o dia em que
teremos deixado de ser revolucionários e, então, o melhor que
vocês poderiam fazer seria deitar-nos fora...


Che Guevara

terça-feira, 25 de novembro de 2008

blu







Letter A from blu on Vimeo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Carta de Amor

Para te dizer tão-só que te queria
Como se o tempo fosse um sentimento
bastava o teu sorriso de um outro dia
nesse instante em que fomos um momento.
Dizer amor como se fosse proibido
entre os meus braços enlaçar-te mais
como um livro devorado e nunca lido.
Será pecado, amor, amar-te demais?
Esperar como se fosse (des) esperar-te,
essa certeza de te ter antes de ter.
Ensaiar sozinho a nossa arte
de fazer amor antes de ser.
Adivinhar nos olhos que não vejo
a sede dessa boca que não canta
e deitar-me ao teu lado como o Tejo
aos pés dessa Lisboa que ele encanta.
Sentir falta de ti por tu não estares
talvez por não saber se tu existes
(percorrendo em silêncio esses altares
em sacrifícios pagãos de olhos tristes).
Ausência, sim. Amor visto por dentro,
certezas ao contrário, por estar só.
Pesadelo no meu sonho noite adentro
quando, ao meu lado, dorme o que não sou.
E, afinal, depois o que ficou
das noites perdidas à procura
de um resto de virtude que passou
por nós em co(r)pos de loucura?
Apenas mais um corpo que marcou
a esperança disfarçada de aventura…
(Da estupidez dos dias já estou farto,
das noites repetidas já cansado.
Mas, afinal, meu Deus, quando é que parto
para começar, enfim, este meu fado?)
No fim deste caminho de pecados
feito de desencontros e de encantos,
de palavras e de corpos já usados
onde ficamos sós, sempre, entre tantos…
Que fique como um dedo a nossa marca
e do que foi um beijo o nosso cheiro:
Tesouro que não somos. Fique a arca
que guarde o que vivemos por inteiro.


Fernando Tavares Rodrigues

What's a girl to do



We walked arm in arm
But I didn't feel his touch
A desire I'd first tried to hide,
That tingling inside was gone
And when he asked me:
'do you still love me?'
I had to look away
I didn't want to tell him
That my heart grows colder with each day

When you love so long
That the thrill is gone
And your kisses at night
Are replaced with tears
And when your dreams are on
A train to train wreck town
Then I ask you now, what's a girl to do?

He said he'd take me away
That we'd work things out
And I didn't want to tell him
But it was then I had to say
Over the times we've shared
It's all blackened out
And my bat lightning heart
Wants to fly away

When you love so long
That the thrill is gone
And your kisses at night
Are replaced with tears
And when your dreams are on
A train to train wreck town
Then I ask you now, what's a girl to do?

What's a girl to do?

sábado, 22 de novembro de 2008

Lay Down



Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,

um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,

tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.


Jorge de Sena

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Andrew Bird / Ernesto Sábato



O homem não pode manter-se humano a esta velocidade, se viver como um autómato será aniquilado. A serenidade, uma certa lentidão, é tão inseparável da vida do homem como a sucessão das estações é inseparável das plantas, ou do nascimento das crianças. Estamos no caminho mas não a caminhar, estamos num veículo sobre o qual nos movemos incessantemente, como uma grande jangada ou como essas cidades satélites que dizem que haverá. E ninguém anda a passo de homem, por acaso algum de nós caminha devagar? Mas a vertigem não está só no exterior, assimilá-mo-la na nossa mente que não pára de emitir imagens, como se também fizesse zapping; talvez a aceleração tenha chegado ao coração que já lateja num compasso de urgência para que tudo passe rapidamente e não permaneça. Este destino comum é a grande oportunidade, mas quem se atreve a saltar para fora? Já nem sequer sabemos rezar porque perdemos o silêncio e também o grito.

Na vertigem tudo é temível e desaparece o diálogo entre as pessoas. O que nós dizemos são mais números do que palavras, contém mais informação do que novidade. A perda do diálogo afoga o compromisso que nasce entre as pessoas e que pode fazer do próprio medo um dinamismo que o vença e que lhes outurgue uma maior liberdade. Mas o grave problema é que nesta civilização doente não há só exploração e miséria, mas também uma correlativa miséria espiritual. A grande maioria não quer a liberdade, teme-a. O medo é um sintoma do nosso tempo. A tal extremo que, se rasparmos um pouco a superfície, poderemos verificar o pânico que está subjacente nas pessoas que vivem sob a exigência do trabalho nas grandes cidades. A exigência é tal que se vive automaticamente sem que um sim ou um não tenha precedido os actos.

Ernesto Sábato

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Como eu gosto de ti...

Ao amor que já não ama, lacera-se-lhe o coração em brasa, domam-se-lhe as rédeas no casquilho dos dentes. Um amor temeroso e efémero, porque um coração transita como os frutos de época. Um coice tardio na curva do peito, porque os seus tornozelos não suportam o fardo do corpo que ainda trilha as sendas do amor. O amor dito de palavra é açúcar nos ferrolhos da boca, amor adoçado nas gengivas como um beijo de campânula. Amor que sobra das palavras dorme ao relento de corpo purgado ao vento, escavacando as ervas-beldroegas com as suas garras de leão-persa. Aos olhos de um amor que ainda ama, a infinidade da noite é uma mentira eléctrica serpeando que nem enguia o choro das caldas de Cáspio. Aos meus olhos, o limbo da noite é estonteante e latente, dos olhos às mãos, e do peito à memória, uma âncora no céu-da-boca.

(...)

Como eu gosto de ti, ninguém o entenderia. Nem a cama esvaída que me obriga a desprender-me do corpo noutras roturas nocturnas e azedas. Nem a solidão taciturna que escorre devagar nos chuviscos flamejantes do amor. Como eu gosto de ti, nem o mundo o aceitaria. As árvores trépidas, os animais ferinos, a cadência dos lagos, mobília sisuda que ganha a morte sobre o couro crestado. Como eu gosto de ti, só a melodia do poente trova. E se a antemanhã sucumbe nas copas das sequóias - ricocheteando como uma bala célere - perfurando como um comboio alucinado - a incerteza dos teus sinais desmancha-se sobre os meus lençóis na loucura do leito. Como eu gosto de ti, só eu sei, de dentro para dentro, como um confim de baús entreabertos às galáxias chamejantes do céu da boca. Como eu gosto de ti, segredando-me da voz o rasto da tua presença, pernoitando-me de corpo fixo e amor esquivo, a temperança das tuas enchentes.

Alice Turvo, in Férreos Transversais

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Noiserv / Paul Éluard



A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura.
Berço nocturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.

Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.

Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.

Paul Éluard

Zhang Xiaogang




sábado, 15 de novembro de 2008

Mishima



Numerosos comboios do caminho-de-ferro aéreo paravam mesmo ao pé de nós e partiam de novo, com grande ruído de metais. A multidão de pessoas que subia e descia das carruagens tornava-se cada vez mais densa. Cada vez que chegava um comboio, ficávamos cortados do raio de sol que nos banhava no seu agradável calor. E cada vez que um comboio se afastava, eu ficava de novo aterrorizado com a suavidade do sol que me batia no rosto.
Considerava um sinal de mau augúrio esta forma como o sol abençoado vinha ter comigo, a maneira como o meu coração fruía momentos que não deixavam nada a desejar. Dentro de alguns minutos, sem dúvida que um repentino raid aéreo ou outro acontecimento igualmente funesto viria pôr termo às nossas vidas. Ou talvez tivesse ganho o mau hábito de considerar a mínima felicidade como um grande favor pelo qual teríamos que pagar um preço. Era esse, precisamente, o meu sentimento ao encarar Sonoko. E também ela parecia esmagada pelo mesmo sentimento.
(...)


Yukio Mishima
- in Confissões de uma Máscara


Mishima morre a 25 de Novembro de 1970 na mesma cidade onde nasceu cometendo "seppuku", o suicídio ritual tradicional dos samurais.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

John Bonham



I remember in the early days when we played six nights a week for a month and I was doing my long drum solo every night. My hands were covered in blisters.

John Bonham

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Nneka / Gottfried Benn



Eleva-te da fila das que estão,
mulheres que a terra toda põem em flor,
adiantas-te, trazendo a sagração
das eleitas pró fogo em que arde o amor.

Do princípio dos povos, das idades,
presságio, cruzamento, morte – vem,
agora a forma és tu – serenidades,
esperança, sedução, trazes, mas quem

esperarás para o teu arrepio
e quem te bebe e reconhece assim
na tua eternidade em luta e cio –
esperarás o deus? – Espera por Mim!



Gottfried Benn

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Weekend Wars



Quando o subconsciente é abandonado a si próprio por um momento, ele começa, muito simplesmente, a tecer uma trama. Cria uma identidade para si próprio, adapta-se ao meio e produz diligentemente novas formas de preencher o súbito vácuo que se cria quando esquecemos a realidade imediata. Parece não haver nada de que o subconsciente tenha tanto medo como a sensação de não ser ninguém. E, servidor prestável, começou a fabricar-me uma biografia!

Lars Gustafsson

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Common People




Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.


Mário de Sá-Carneiro

sábado, 8 de novembro de 2008

os vossos lugares - Viana do Castelo




Viana do Castelo - Portugal

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Love Is Noise



Tentai apreender a vossa consciência e sondai-a. Vereis que está vazia, só encontrareis nela o futuro. Nem sequer falo dos vossos projectos e expectativas: mas o próprio gesto que surpreendeis de passagem só tem sentido para vós se projectardes a sua realização final para fora dele, fora de vós, no ainda-não. Mesmo esta taça cujo fundo não se vê - que se poderia ver, que está no fim de um movimento que ainda não se fez -, esta folha branca cujo reverso está escondido (mas poderia virar-se a folha) e todos os objectos estáveis e sólidos que nos rodeiam ostentam as suas qualidades mais imediatas, mais densas, no futuro.
O homem não é de modo nenhum a soma do que tem, mas a totalidade do que não tem ainda, do que poderia ter. E, se nos banhamos assim no futuro, não ficará atenuada a brutalidade informe do presente? O acontecimento não nos assalta como um ladrão, visto que é, por natureza, um Tendo-sido-Futuro. E, para explicar o próprio passado, não será a primeira tarefa do historiador procurar o futuro?

Jean-Paul Sartre

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Sara Tavares / Jorge Barbosa





"Dorme Maninho
pra não vir Ti Lobo..."

Maninho
volta-se e dorme
no colchão de saco vazio
sobre a terra batida.

Ao lado no chão dormindo também
o naviozinho de lata
que fez com suas mãos...

Apaga-se a luz.
Maninho acorda depois
por causa da voz falando baixinho
segredando
no meio escuro...

Não fala de mamãe...
Ti Lobo talvez...
Mas nhô Chico Polícia há dias contava:
"Ti Lobo não tem..."

Essa voz nocturna segredando...
O homem branco talvez
que lá vai de vez enquando...

"Dorme Maninho
pra não vir Ti Lobo..."

Volta-se e torna a dormir...

Amanhã cedo vai correr o naviozinho de lata
nas poças da Praia Negra...



Jorge Barbosa

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Frida Kahlo



terça-feira, 4 de novembro de 2008

If you ever need me, just remember...



I wonder, if I ever let you down
Did you keep on moving
I wonder, when I took my feet from off your ground
Did you keep on going

If you ever need me, just remember
All the times when we wandered free
If you ever miss me, don't you know
That i feel the same way

I wonder, did I ever fail you
Did you give up dreaming
I wonder, when I had to go
Did you stop believing

Don't you know, every sould must grow older
Our past belongs to you
And it should make you stronger

If you ever need me, just remember
All the times when we wandered free
If you ever miss me, don't you know
That I feel the same way

Don't stop moving, you must keep on going
Don't you stop believing, you should go on dreaming
Don't stop moving, you must keep on going
Don't you stop believing,
'Cause it's people like you make the world go...

If you ever need me, just remember
All the times when we wandered free
If you ever miss me, don't you know
That I feel the same way

If you ever need me, just remember
And I'll always be there
If you ever miss me, don't you know
...don't you know
...we will meet again

Cultiva a Tua Diferença

Não és um homem normal. Isso te é uma inferioridade (ou uma superioridade?). Como em tudo o que é diferente. Cultiva a tua diferença. Mas uma diferença pode ser negativa. Esse o teu drama. Porque a tua diferença vai além e fica aquém dos outros. Tu querias ser os outros no em que lhes és inferior e ser diferente no em que lhes és superior. Mas toda a superioridade se paga. Paga e não bufes.

Vergílio Ferreira

sábado, 1 de novembro de 2008

Same Love That Made Me Laugh



o mar não conhece as profundidades
nenhum azul nem conhece as suas ondas
o mar não é soberbo nem
manso nem amargo
não conhece o sabor do vento nem da espuma
o mar não vê nenhum sol
nem terra nem seixos
O mar não ama o céu
nem a lua
o mar não se conhece



Eva Christina Zeller

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