quarta-feira, 30 de abril de 2008

This is not America



There was a time
A storm that blew so pure
For this could be the biggest sky
And I could have
The faintest idea...

terça-feira, 29 de abril de 2008

Closer




No one will ever love you as much as I do. Why isn't love enough?



http://www.sonypictures.com/homevideo/closer/index.html

The Mars Volta / Valter Hugo Mãe




eu vi um homem alto demais para caber nas casas. era muitas vezes dobrado como um papel e posto num canto como guardado. muito tempo o vi um dia em que ficou no parque sentado. estava na relva e todas as coisas que pertenciam às árvores pareciam querer conhecê-lo. algumas crianças gritavam com ele convictas de que não as ouvia lá no cimo da sua cabeça. as coisas que pertenciam às árvores por vezes afugentavam as crianças, e um homem assim competia com elas. frutos caíam com peso no chão, mal esquivados às cabeças tontas que se assustavam. eu vi esse homem alto demais a ir embora. algures no fundo da rua virou à direita. não o pude alcançar com a minha pequena bicicleta e começou a chover. juro que ainda percebi, acima dos prédios, a sua mão esticada no ar para se proteger da água ou abrir um alçapão no céu


Valter Hugo Mãe

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A cidade está presa nas palavras



Há um homem que atravessa a rua. Leva sacos às costas, cordas
que interrompem a noite de outros homens que passam.
São negros, mas rebentam a noite de outros pesos,
desfaz-se o corpo leve dos que não regressam.

O homem diz: - É noite na cidade de onde venho.
São negros os sacos do homem, pensam os outros.
É noite na cidade onde chegas, poderiam pensar.
De onde vens?

A cidade está presa nas palavras.

Há uma rua atravessada pelo homem que diz: - A cidade somos nós.
E há os que não se transportam no dia, os que não chegam de noite
à noite de outros. Os que não se quebram na cidade partida.
Os que dizem:

A cidade está presa na memória.

Há no entanto uma cidade no início: sem rua e sem noite ponderada.
Sem costas. Que no lugar da torre, tem uma cratera,
que no lugar do caminho, tem um poço sem espelho.
Sem água. Que no lugar do relógio tem o sol.
Que no lugar do homem, tem a primeira ave.
É uma cidade onde ninguém diz a verdade:

A cidade está presa.


Filipa Leal

domingo, 27 de abril de 2008

Bo seiva



Mórna k-um konxé
Inda mininu na regasu
Na óra di dispidida um kré també
Uvi-b oh morna !
Bo seiva,
Invadi-m nha korasom sem limit
Ai si um pudéss,
Bibé um káliss d'bo meludia !
Bo feitiss ta infeitisa-m
Bo prága t'amaldisua-m
Bo séka ta seka-m nha peit
Más mésmu asim ja-m kre-b oh mórna !

Hallelujah




"Tenho diante de mim as duas páginas grandes do livro pesado; ergo da sua inclinação na carteira velha, com os olhos cansados, uma alma mais cansada do que os olhos. Para além do nada que isto representa, o armazém, até à Rua dos Douradores, enfileira as prateleiras regulares, os empregados regulares a ordem humana e o sossego do vulgar. Na vidraça há ruído do diverso, e o ruído diverso é vulgar, como o sossego que está ao pé das prateleiras.

Baixo olhos novos sobre as duas páginas brancas, em que os meus números cuidadosos puseram resultados da sociedade e, com um sorriso que guardo para meu, lembro que a vida, que tem estas páginas com nomes de fazendas e dinheiro, com os seus brancos, e os seus traços à régua e de letra, inclui também os grandes navegadores, os grandes santos, os poetas de todas as eras, todos eles sem escrita, a vasta prole expulsa dos que fazem a valia do mundo.

No próprio registo de um tecido que não sei o que seja se me abrem as portas do Indo e de Samarcanda, e a poesia da Pérsia, que não é de um lugar nem de outro, faz das suas quadras, desrimadas no terceiro verso, um apoio longínquo para o meu desassossego. Mas não me engano, escrevo, somo e a escrita segue, feita normalmente por um empregado deste escritório."


Bernardo Soares

http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_do_Desassossego

sábado, 26 de abril de 2008

Damien Rice / Cesariny



Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.


MÁRIO CESARINY

Half Nelson




"The sun goes up and then it comes down, but everytime that happens what do you get? You get a new day."


http://www.halfnelsonthefilm.com/

Brasis



A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crinças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.


Cecília Meireles

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Há-de flutuar...um País



Há-de flutuar uma cidade

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

Al Berto

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Dazed and Confused ( ? )




"Não digas nada, dá-me só a mão. Palavra de honra que não é preciso dizer nada, a mão chega. Parece-te estranho que a mão chegue, não é, mas chega. Quantos são hoje? Nunca sei às que ando, confundo tudo, perco-me sempre, os dias, as horas, às vezes cumprimento pessoas que não conheço, há uma semana ou isso entrei num antiquário, sentei-me a uma mesa D. João V e quando a senhora da loja veio, de uns armários franceses ou lá o que era, pedi-lhe que me servisse um uísque. Uma senhora com mais pulseiras que tu e anéis caros, de maquilhagem a lutar com a idade e a perder. Ficou a olhar para mim de cara ao lado. Depois perguntou-me se eu estava bêbado e depois começou a medir a distância entre ela e a porta a fim de chamar por socorro. Numa das paredes paisagens emolduradas a talha, o retrato de uma viscondessa decotada, estampas de cavalos com legendas em francês. A viscondessa usava um anel no indicador rechonchudo e tinha cara de jantar bicos de rouxinol todos os dias, servindo-se dos talheres como se cada dedo fosse um mindinho, desses que a gente enrola para beber o café. A minha irmã, pelo menos, enrola. Eu sou mais para o género de o esticar, tipo antena. Educações. Tu não enrolas nem esticas, deixas a mão inerte na minha. Não te apetece apertar-me, não tens vontade de ser terna? Gostava que ma apertasses três vezes, depois eu apertava três vezes, depois tu apertavas quatro vezes, depois eu apertava-te quatro vezes e ficávamos que tempos assim, num morse de namorados. Fantasias. Desejos. Se calhar sou uma pessoa carente. Se calhar nem sequer sou carente, sou só parvo. Segundo a minha irmã sou só parvo. A propósito de tudo e de nada

- És tão parvo "


António Lobo Antunes

"Não digas nada, dá-me só a mão. Palavra de honra que não é preciso dizer nada, a mão chega"


http://clix.visao.pt/Opiniao/antonioloboantunes/Pages/Migalhas.aspx

Where do they all belong ?




"Eleanor rigby picks up the rice in the church where a wedding has been
Lives in a dream
Waits at the window, wearing the face that she keeps in a jar by the door
Who is it for?"


Paul McCartney

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Vinicius




Ausência


Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinicius de Moraes

terça-feira, 22 de abril de 2008

bonnie prince billy / William Shakespeare




Carpe Diem

O mistress mine, where are you roaming?
O stay and hear! your true-love's coming
That can sing both high and low;
Trip no further, pretty sweeting,
Journey's end in lovers' meeting--
Every wise man's son doth know.

What is love? 'tis not hereafter;
Present mirth hath present laughter;
What's to come is still unsure:
In delay there lies no plenty,--
Then come kiss me, Sweet and twenty,
Youth's a stuff will not endure.

William Shakespeare

Majesty




So am I
Good or bad
The way that things did turn out
I did only make you sad
And we cried and we cried
On the phone
Oh, but in my mind
You were never that all alone
Oh, you were majesty
Your roads were heavy
And your longing was cut from bone
So am I
Am I good or bad
Could only awake your anger
I could only make you mad
Now was that how you showed me
That you were still so young and bold
Anyway those fights did drive me
And I was dying of thirst and I wasn't growing old
Oh, you were majesty
Your ropes were heavy
And your roads were very cold
Oh, oh, oh, majesty
But in my mind
I could still climb inside your bed
And I could be victorious
Still the only man to pass through the glorious arch of your head, o-oh
Oh, you were majesty
Your ropes were heavy
And your cheeks were very red
Oh, you were majesty
Now it's like I said
That spirit, it's now dead
Oh, oh, oh, majesty

segunda-feira, 21 de abril de 2008

La Boheme




Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.


Eugénio de Andrade

domingo, 20 de abril de 2008

Para ver as meninas...



Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como um acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,

Está no pensamento cono ideia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.


Luís de Camões

sábado, 19 de abril de 2008

Pan's Labyrinth





"A long time ago, in the underground realm, where there are no lies or pain, there lived a Princess who dreamt of the human world. She dreamt of blue skies, soft breeze and sunshine. One day, eluding her keepers, the Princess escaped. Once outside, the brightness blinded her and erased every trace of the past from her memory. She forgot who she was, and where she came from. Her body suffered cold, sickness and pain. Eventually she died. However, her father, the King, always knew that the Princess' soul would return, perhaps in another body, in another place, at another time. And he would wait for her, until he drew his last breath, until the world stopped turning..."

Umas vezes o mar,outras o cinema...


http://www.panslabyrinth.com/

Always For You




In the air I flew
Through the clouds I fall
Through the country I've walked
In front of temples I've stood
Before the ocean I pray
And I said your name

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Borges / Smith



Arte poética

Mirar el río hecho de tiempo y agua
y recordar que el tiempo es otro río,
saber que nos perdemos como el río
y que los rostros pasan como el agua.

Sentir que la vigilia es otro sueño
que sueña no soñar y que la muerte
que teme nuestra carne es esa muerte
de cada noche, que se llama sueño.

Ver en el día o en el año un símbolo
de los días del hombre y de sus años,
convertir el ultraje de los años
en una música, un rumor y un símbolo,

ver en la muerte el sueño, en el ocaso
un triste oro, tal es la poesía
que es inmortal y pobre. La poesía
vuelve como la aurora y el ocaso.

A veces en las tardes una cara
nos mira desde el fondo de un espejo;
el arte debe ser como ese espejo
que nos revela nuestra propia cara.

Cuentan que Ulises, harto de prodigios,
lloró de amor al divisar su Itaca
verde y humilde. El arte es esa Itaca
de verde eternidad, no de prodigios.

También es como el río interminable
que pasa y queda y es cristal de un mismo
Heráclito inconstante, que es el mismo
y es otro, como el río interminable.


Jorge Luis Borges

The Deer Hunter



The talent is in the choices.


Robert De Niro

quinta-feira, 17 de abril de 2008

beautiful boyz




Alone With Everybody

the flesh covers the bone
and they put a mind
in there and
sometimes a soul,
and the women break
vases against the walls
and the men drink too
much
and nobody finds the
one
but keep
looking
crawling in and out
of beds.
flesh covers
the bone and the
flesh searches
for more than
flesh.

there's no chance
at all:
we are all trapped
by a singular
fate.

nobody ever finds
the one.

the city dumps fill
the junkyards fill
the madhouses fill
the hospitals fill
the graveyards fill

nothing else
fills.


Anonymous submission.


Charles Bukowski

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Hope Theres Someone



Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 15 de abril de 2008

Ricardo Pádua...We Rock...You roll



http://www.ricardopadua.com/

http://guypratt.ricardopadua.com/

Green Grass





Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me

Come closer don't be shy
Stand beneath a rainy sky
The moon is over the rise
Think of me as a train goes by

Clear the thistles and brambles
Whistle 'Didn't He Ramble'
Now there's a bubble of me
And it's floating in thee

Stand in the shade of me
Things are now made of me
The weather vane will say...
It smells like rain today

God took the stars and he tossed 'em
Can't tell the birds from the blossoms
You'll never be free of me
He'll make a tree from me

Don't say good bye to me
Describe the sky to me
And if the sky falls, mark my words
We'll catch mocking birds

Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me


Tom Waits

Cântico Negro




"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí.


José Régio

domingo, 13 de abril de 2008

A bullet in ya head




Para um Amigo que partiu cedo demais.O que nos vale é que a internet agora chega a todo o lado!

sábado, 12 de abril de 2008

Energy Flow




Enquanto houver uns olhos que reflectem
outros olhos que os fitam,
enquanto a boca responda a suspirar
aos lábios que suspiram,
enquanto sentir-se possam ao beijar-se
duas almas confundidas,
enquanto exista uma mulher formosa,
haverá poesia!


Gustavo Adolfo Bécquer

sexta-feira, 11 de abril de 2008

As bodas de Deus





"Tudo parece perdido.

É então que num velho parque solitário e gelado, duas sombras se encontram: a de Deus e a de um Enviado de Deus."

ladies and gentlemen ...LED ZEPPELIN



http://www.ledzeppelin.com/

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Nothing Really Ends

wild is the wind...




Dedicada ao maior admirador deste Senhor,o meu Amigo,Paulo Dantas.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

My religion is very simple. My religion is kindness....Dalai Lama

terça-feira, 8 de abril de 2008

Vida de Cão


A Universidade do Porto acolhe, no edifício da Reitoria, entre os dias 9 e 17 de Maio a exposição de fotografia intitulada "Vida de cão". O trabalho do fotógrafo Joaquim Pedro Correia visa promover uma reflexão sobre a situação actual dos animais abandonados em Portugal. Durante o período compreendido entre os meses de Junho a Setembro de 2007, Joaquim Pedro Correia, visitou vários canis e associações de animais no intuito de perceber a dimensão do fenómeno num país em que a legislação parece simples mas reduz as expectativas de vida de um "antigo" animal de companhia a apenas 8 dias a partir do momento em que é capturado. O resultado é uma série de 20 imagens que pretendem responder a uma das muitas frases lidas e ouvidas por quem vivência esta realidade: «A pergunta não é "podem eles pensar?" ou "podem eles falar?", mas antes "podem eles sofrer?» (Jeremy Bentham).

O evento conta com o apoio da Sociedade Protectora dos Animais do Porto que, durante os dias da exposição fará uma acção de sensibilização.

Joaquim Pedro Correia, fotógrafo há mais de uma década, é autor do livro "Herois do Mar", fotografou para o livro "Portograal", colabora, continuamente com a Fundação de Serralves tendo participado em várias exposições, individuais e colectivas entre as quais "A luz do céu com a luz da terra" na galeria Alvarez."

............

O trabalho do fotógrafo Joaquim Pedro Correia,meu Amigo...Este post também é dedicado a todos aqueles que nos dizem que não é possível.Mais uma vez foi possível.Parabéns e obrigado.

eu já ouvi o silêncio...

Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais
este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.
Fecha os olhos agora e sossega o pior já passou
há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão
desvia os passos do medo. Dorme, meu amor -

a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste
e pode levantar-se como um pássaro assim que
adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra
não hão-de derrubar-me eu já morri muitas vezes
e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos

agora e sossega a porta está trancada; e os fantasmas
da casa que o jardim devorou andam perdidos
nas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme,

meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e
nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já
olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui,
de guarda aos pesadelos a noite é um poema
que conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres.

Maria do Rosário Pedreira

segunda-feira, 7 de abril de 2008

o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias

o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.


José Luís Peixoto

domingo, 6 de abril de 2008

Always For You


Always For You é dedicado a alguém que faz milhares de piscinas em torno da música...um dia será famosa,mas se não for,será sempre alguém que correu atrás daquilo que ama.Será sempre alguém muito especial.
Obrigado Carina.


In the air I flew
Through the clouds I fall
Through the country I've walked
In front of temples I've stood
Before the ocean I pray
And I said your name

In the air I flew
Through the clouds I fall
And all the things I've tried to say
Were never easy to explain
They were always meant for you

And all the memories that were made
For years and years
I've chased this day
They were always for you
Always for you

In the air I breath
Through the clouds I see
Through the cities I've walk
In the castles I dreamed
On the mountain I climb
When I call your name

In the air I flew
Through the clouds I've fell
And all the things I've tried to change
Were never easy to contain
They were always meant for you
(always for you)

And all the memories will never fade
For years and years
In my heart you'll stay
It was always for you
Always for you
Always for you

And all the pieces that remain
They will build a place for us to stay
They were always meant for you
(always for you)

And all the chances that we take
For years and years
We'll have this place
They were always for you
Always for you



The Album Leaf

sábado, 5 de abril de 2008

o céu é aquela clareira


o céu é aquela clareira
onde deito os olhos com ténues
cambiantes de cor que quase
gasto nas mãos, e como. como
o céu e aguardo uma
digestão convulsa. enquanto
o aguaceiro seca na terra antes que o
possa beber e deus se
vinga de mim ditando
os versos que escondem
a água ao mundo. já as
fogueiras florindo em volta,
murchando o dia que me
persegue. uma intervenção
divina para me resistir



valter hugo mãe

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Se eu fosse Deus parava o sol sobre Lisboa (Matosinhos)

O meu grande Amigo Joaquim Pedro Correia atirou-me ontem com estas Palavras do António Lobo Antunes.
Chegaram no momento em que tinham que chegar,até porque eu já as estava a ler momentos antes de saber da sua existência.
Ao lê-las,percebi que já as tinhamos "escrito" os dois,talvez vezes demais,mesmo sendo sempre um "sofrido" previlégio, que sei que terei para Sempre...Ao lê-las,percebi que já as tinhamos "escrito" os dois.Pior é quando o fazemos Sozinhos.

"...Agora é manhã e está sol. Nenhum ruído à minha volta. Se eu pudesse passar a vida a limpo, como diz o Drummond, corrigia quase tudo. Que pena não podermos emendar os dias, o que fizemos, o que somos. Um demónio qualquer distorceu-me tudo ou fui eu quem distorceu tudo? Acabando esta crónica retomo a correcção do livro na esperança de, ao emendá-lo, emendar-me. Fui sempre honesto a escrever. E nas outras coisas? Estarei a ser pretensioso ao julgar que sim?..."

António Lobo Antunes

http://clix.visao.pt/Opiniao/antonioloboantunes/Pages/SeeufosseDeusparavaosolsobreLisboa2.aspx

quinta-feira, 3 de abril de 2008

"Não te procurei porque procurar-te me daria a exacta dimensão da tua ausência, poderia vaguear minutos horas, procurar-te quem sabe chamar por ti dizer o teu nome, saberia eu que de pouco me adiantava, seria isto pergunta ou a exacta afirmação de que não te encontras.
Mal tu sabes não tiveste tempo de saber, o que pode ser uma hesitação tão estúpida entre caminhar entre os nossos destroços ou deixar-me ficar
Sentado
Encostado à banca da cozinha
Absorto a acender mil vezes o isqueiro
Reduziste-me afinal a estes passos desencadeados, todas as minhas dúvidas do momento estão aqui, sento-me, levanto-me (…)
(…) falta-me o pormenor que te define mesmo, um detalhe para que sejas absolutamente
exacta, clara
a inveja que tenho de quem sabe traduzir."

Rodrigo Guedes de Carvalho, in A Casa Quieta


quarta-feira, 2 de abril de 2008

Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!


Alexandre O'Neill

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